sábado, 5 de julho de 2008

Os Descaminhos da Juventude

O sujeito pós-moderno vive em uma atmosfera preenchida por atitudes precipitadas e descabidas, que revelam a instabilidade das relações humanas e o isolamento das questões que são levantadas em sociedade. É característica da população brasileira a variedade étnica e cultural, que anuncia suas particularidades com a formação de grupos regionais com a conduta correspondente ao devido lugar de origem. Chamam esses grupos de "tribos", com costumes e condutas independentes, com a devida consideração ao meio em que vivemos e à diversidade a que estamos submetidos.
Com o avanço do processo de Globalização, a aceleração do tempo e dos hábitos tornou o convívio dos homens no espaço familiar bem mais escasso e, assim, destituído de harmonia. Do ponto de vista parcial, a "ausência" das relações dentro de casa permite uma probabilidade de evento de repúdio e discórdia. Sem o diálogo e a atenção, não há entendimento.
Além disso, o enfraquecimento ou a inexistência dos vínculos promovem a retração do indivíduo e a interferência no seu relacionamento com os demais. A partir deste momento, qualquer forma de agressão, seja ela verbal, seja física ou uma simples ameaça, contribui ainda mais para a vulnerabilidade e a privação de cada um.
O desenvolvimento tecnológico e a imposição dos mecanismos de consumo propiciaram uma ampla concorrência entre os setores da economia, comprometendo as condições de vida social, haja vista o crescimento profissional ser um produto da iniciativa, empreendedorismo e vigor. É um aspecto positivo observar a percepção contínua do homem na procura pelo controle do poder.
A incessante busca pelo progresso mostra as diversas maneiras que o ser humano manifesta na apropriação da liderança, expectativa em seus projetos, perspectivas junto à realização de seus propósitos e atividades. Isto consolida a intensidade da resistência no que se refere ao comportamento. O gênero masculino exprime a determinação e a força física, enquanto as mulheres esboçam a sensibilidade e o juízo de valor na submissão à autoridade masculina.
Os surtos de agressividade são conseqüências do despreparo ou fragmentação da família, uma vez que o mundo universalizado promove a competitividade em todos os segmentos de trabalho. As mulheres, em sua grande maioria, passam a ocupar cargos de relevância em seus postos profissionais. A uniformização dos recursos para o entretenimento do povo representa um dos fatores predominantes para a formação de grupos de jovens com interesses e comportamentos distintos, de acordo com os princípios culturais de seus bairros, cidades ou regiões.
Sob o foco dos meios de comunicação de massa, os acontecimentos são apresentados pelos veículos para cada público-alvo como verdadeiros produtos, obstruída a realidade do delito, agressão ou violência contida. É anunciada, inclusive nas instituições de ensino, a contundente reprodução dos fatos como uma constante de normalidade na vida do próximo, distante de sua aceitação, considerado o reflexo para a própria consciência do cidadão para a vida em comunidade.
É necessário ressaltar que a aplicação de regras com o objetivo de disciplina e o respeito à hierarquia nas diferenciadas instituições, tais como, casa, escola, empresas e Igreja, são condições fundamentais para a obtenção de resultados satisfatórios no campo das interações pessoais, definida a contribuição ímpar de cada estrutura psicológica aos contornos da coletividade.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Somos heróis?

Somos heróis?
No período de 1964 a 1985 o Brasil atravessou uma ditadura militar que ,recorrendo à legitimação pela força ,estendia o braço do Estado até os limites do inimaginável através do uso de prisões e torturas contra todo e qualquer cidadão,assim denominado por força do hábito mas completamente desprovido de sentido pela total ausência de humanidade nas relações entre este e o governo.Alguns organizaram-se em movimentos e recorreram às armas para tentar conter o inimigo que se aproximava por todos os lados,insaciável,tomando todas as garantias constitucionais tão duramente conquistadas ao longo do tempo e acabando por extinguir a própria constituição.Foram exterminados,cruelmente perseguidos e expulsos do solo nacional.Anos passaram sem que se soubesse seu paradeiro.Poucos conseguiram retornar.
Em maio de 2008 uma equipe de reportagem do Jornal o Dia foi capturada por integrantes de grupos paramilitares em Realengo,sendo submetidos a tortura física e psicológica por longas sete horas.
A relação entre esses dois episódios,longe de assemelhar-se pelo método brutal de coerção empregado pelos autores de ambas as situações ou mesmo da legitimação de seu poder,seja pela ausência do poder do Estado,no caso dos paramilitares,ou pela própria estrutura de governo para os militares brasileiros,reside na postura tomada pelo outro lado,ou seja,pelos heróis da história que seriam respectivamente os militantes políticos e os jornalistas .
Qual o papel do herói em nossa sociedade?Ate que ponto esse mito é estimulado e suportado pelas estruturas ideológicas da humanidade e porque ainda hoje existem aqueles que abdicam de sua própria felicidade em prol de um ideal ?A explicação começa muito longe daqui, nas narrativas da própria História e em seus personagens,quase sempre homens que sobrepujaram suas características humanas e conseguiram vencer as adversidades para alcançar um bem maior.Crescemos enquanto espécie sob a figura do mito ,que rompe o avanço do mal e abre mão de sua felicidade individual,arriscando-se em nome de uma ideologia,seja ela qual for.A cultura,oriental e ocidental esta calcada em exemplos,religiosos,políticos e mitológicos,que conseguiam sob o peso de suas próprias vontades,pôr em movimento o curso da humanidade.E para tornar mais valiosa a conquista,é preciso que sejam muitos os sofrimentos e adversidades,é preciso que haja sangue,suor,lágrimas e que seja superado um inimigo muito maior.Assim,nos ensinaram,muda-se o mundo e os exemplos estão em todos os lugares,no cinema,nas escolas,no inconsciente coletivo de cada um de nós fazendo-nos acreditar em que somente através dos grandes gestos promove-se revolução,não bastando ser “apenas” humano.
Mas estaremos à altura das exigências que nos forem impostas?Seremos capazes de transformarmo-nos em seres com características acima do comum e derrotar nossos inimigos?Não seremos.Superamos as expectativas dentro de nosso limite individual,fora dele somos apenas um conglomerado de células pensantes e muito sentimento,restritos à distância que alcançam os olhos .E quando tentamos romper nossos limites físicos,pela forca de um ideal,quase sempre nos deparamos com a força que é imposta àqueles que contra ela lutam.Não foram massacrados às centenas,os militantes de todas as gerações?Serviram de exemplo positivo e negativo.Mudaram o mundo?De certa forma,sim.Tornaram,como pretendiam,a vida da humanidade melhor?Não necessariamente e a figura do jornalista nesse contexto,entra sob o viés do romantismo ,como o herói que usa a sua coragem para lutar contra as injustiças sociais,investigando-as e denunciando-as,doa a quem doer.Assim como os revolucionários,vestido com a pretensa armadura da invencibilidade mítica,ele atua como sendo o grande agente de transformação,esquecendo-se de sua condição humana e portanto,frágil.
É dever do repórter ir além do limite do possível,arriscando a própria vida para exercer sua função esquecendo-se de sua frágil condição humana?Seria possível modificar o curso dos acontecimentos e a estrutura da sociedade apenas pelo sacrifício daqueles que têm coragem de se expor ao perigo?Até que ponto revolucionários e jornalistas que têm a pretensão de mesclarem-se em suas intenções mas ultimamente andam afastados em sua essência ,dada a atual conjuntura capitalista dos grandes meios de comunicação,atuam como agentes sociais na construção de uma sociedade mais justa?
Convém refletir que o papel mais revolucionário que nos cabe assumir é o de ser parte de um todo,seja como medico,engenheiro,operário,dona-de-casa e principalmente professor,ou seja,cidadãos.É na busca de uma condição comum a todos,que forma-se a consciência humana do fazer parte de um grupo e compartilhar com este um cenário social,sentindo-se responsável por sua estruturação ,não de forma ideológica e utópica,mas de modo prático,sem esquecer que sangue e lagrimas são menos revolucionários do que atitudes e dentro dessa ótica somos sim,capazes de muitos atos,senão extraordinários,ao menos capazes de realmente mudar o mundo. Não se muda a sociedade com grandes atos e a estética a que somos submetidos serve apenas de propaganda ideológica a objetivos quase sempre mesquinhos,usando a grande maioria da população como massa de manobra estratégica para interesses escusos.Muda-se o mundo não pelo sacrifício pessoal, mas pelo esforço coletivo em prol de um bem comum,atuando de forma a modificar a vida cotidiana de todos ,e aí então reformulando o conceito já esquecido daquilo que se chama comunidade.