segunda-feira, 29 de setembro de 2008

coluna Literatura-por Tatiane Mendes

Drummond, pintor de idéias...

Carlos Drummond de Andrade,poeta , mineiro de Itabira, é uma pedra no meio do caminho, a continuamente nos obrigar a parar para refletir....Que quererá ele dizer sobre a pedra,no meio do caminho (No meio do caminho) , além do fato de confirmar a presença de determinado objeto disposto na frente da personagem do poema? A essa pergunta,ele com certeza responderia, com o silencio taciturno e ,talvez, um leve sorriso enigmático...Talvez a pedra não queira mesmo dizer nada..É nele que reside o mistério...Em seus textos as palavras compõem uma cena, sem necessidade de outro artífice senão o arranjo que lhes dá o poeta, como se , ao correr a caneta no papel, em vez de letras, rascunhasse figuras, imagens que lhe brotam no pensamento e que compartilha com aqueles que o lêem..Mas Drummond não descreve a cena muito detalhadamente, como se deixasse ao leitor o privilégio de inventar sua própria história.Em seu conto caso do vestido, vê-se a mãe, miúda e envelhecida, a narrar às filhas suas desventuras com o homem que seria o pai delas.É nas lacunas do texto em que se percebe a respiração da pobre mulher, seu pudor em relevar às filhas que aquele vestido pendurado sobre o batente era fruto de uma aventura de seu marido com uma dona de quem ele se enamorara...Quando ele retorna à casa,apos um longo tempo,ela reencontra a tranqüilidade..
“...O barulho da comida
na boca, me acalentava,
dava-me uma grande paz,
um sentimento esquisito
de que tudo foi um sonho,
vestido não há... nem nada.
Minhas filhas, eis que ouço
“vosso pai subindo a escada..”(O caso do vestido)
E o leitor realmente ouve os passos a encher o silêncio da casa e o coração da velha senhora, que trata de terminar a história,não quer aborrecer o pai das meninas a relembrar dissabores...
Drummond é isso,construção de imagens, sejam elas de qualquer tipo,como no caso do poema "o amor que bate na aorta" ,em que descreve magistralmente o maior de todos os males humanos, o mal de amor, e este sentimento,subitamente transformado em personagem, a subir o muro , a cair e sangrar,sob os olhos do público (O amor bate na aorta)....Escorrendo do corpo andrógino, o sangue talvez se misture ao sangue do leiteiro, que sai de casa cedo para entregar o leite e é surpreendido por uma bala certeira desferida pelo senhor assustado(A Morte do Leiteiro )....Mais uma cena do filme drummondiano...Em sua palheta, cores infinitas, um tanto desbotadas ás vezes, porque o tempo também passa para ele....E enquanto o tempo escorre,a máquina do mundo se vai miudamente recompondo( A máquina do mundo ), em versos e estrofes, e o poeta em silêncio, óculos ao rosto, em sua estreita letra a descrever sentidos , registrados por eles em sua aguçada capacidade de perceber o mundo....Não o mundo tangível, mas o mundo findo,pois que esse muito mais do que lindo, com certeza persistirá(Memória).Não importa o fato, o que importa é a combinação de cores que suscitará mais um texto com a assinatura de Carlos Drummond de Andrade, gauche na vida(Poema de Sete faces), pintor de idéias...

domingo, 28 de setembro de 2008

Carta de Apresentação Revista "Com Senso"

CARTA AO LEITOR

Preocupados com a interferência dos acontecimentos políticos, sociais e econômicos no Brasil e no mundo, dentro do contexto cotidiano da população, focando essencialmente os jovens com idade média entre 17 e 30 anos, divulgamos a revista “Com Senso”, reconhecendo informações relevantes para a inserção desta camada no mercado de trabalho, bem como a transmissão de consciência cívica para os mesmos.
Sob o olhar clínico dos variados meios de comunicação de massa, em sua maior parte pendente ao entretenimento, os fatos são apresentados pelos veículos para cada público-alvo como verdadeiros produtos, obstruída a veracidade do delito ou violência contida. É anunciada, inclusive nas instituições de ensino, a contundente reprodução dos fatos como uma constante de normalidade na vida do próximo, distante de sua aceitação, até mesmo para a própria postura do cidadão para a vida em comunidade.
Diante da indiferença registrada entre mídia e sociedade quanto aos aspectos da ética e da responsabilidade moral, levantamos questões, com o uso de uma linguagem acessível, a fim de elaborar uma seleção de artigos baseados nas notícias veiculadas na conjuntura social brasileira. Enquanto mediadores da opinião pública, nós, articulistas da “Com Senso”, buscaremos fundamentalmente a isenção na cobertura dos acontecimentos, precavidos pela liberdade de expressão que nos é apropriada, contudo é nossa maior atribuição profissional a capacidade de esclarecer pontos-chave da dinâmica político-econômica, além de estabelecer de forma simples uma comparação entre os exercícios nas instituições públicas e privadas nos países que mantêm vínculos estratégicos.
É necessário acrescentar que a maior recompensa para o corpo editorial desta revista é a certeza de um trabalho voltado para a mudança do senso crítico individual, através do engajamento das classes na luta pelas suas convicções e aquisição dos seus direitos na condição de cidadãos, com o juízo de valor agregado às observações dos lugares do Homem na sociedade e às manifestações reveladas em cada área de atuação.

domingo, 21 de setembro de 2008

Coluna: Cinema (por Alexandre Bizerril)

O poder do discurso

“Mas, o que há, enfim, de tão perigoso no fato de as pessoas falarem e de seus discursos proliferarem indefinidamente? Onde, afinal, está o perigo?”
Michel Foucault

“Bom dia, boa tarde e boa noite!” Começando mais uma vez educadamente essa coluna, quero comentar hoje sobre um filme que me chamou à atenção já há algum tempo. “Um estranho no ninho” ("One Flew Over the Cuckoo’s Nest", 1975, EUA) do diretor Milos Forman - o mesmo que dirigiu “Amadeus”, “O mundo de Andy” e “O povo contra Larry Flynt” - produzido por Michael Douglas. Estrelado por Jack Nicholson, Louise Flecther, William Redfield, Will Sampson, Christopher Lloyd, Danny DeVito e Brad Dourif. Este filme foi vencedor dos cinco principais "Oscars": melhor filme, melhor direção, melhor ator (Jack Nicholson), melhor atriz (Louise Fletcher) e melhor roteiro e ainda teve outras quatro indicações: melhor ator coadjuvante (Brad Dourif), melhor fotografia, melhor edição e melhor trilha sonora.
A sinopse do filme talvez não chame muito à atenção; desajustado vai para a cadeia e, fingindo-se de louco, é transferido para um hospício, mas ganha a inimizade da enfermeira-chefe por incentivar os outros internos à rebeldia. Aparentemente nada demais, porém os fatos que sucedem a sua chegada ao internato chamam a atenção pela disputa de poder ou o direito ao discurso.
Segundo Foucault, o regime de interdição é um dos três princípios de exclusão, onde “... não se tem direito de dizer tudo, que não se pode falar de tudo em qualquer circunstância, que qualquer um, enfim, não pode falar de qualquer coisa”. E o próprio Foucault subdividiu esse processo de exclusão em três tipos: “tabu do objeto, ritual da circunstância e direito privilegiado ou exclusivo do sujeito que fala” – “... três tipos de interdições que se cruzam, se reforçam ou se compensam, formando uma grade complexa...” Nem todo mundo, ou ninguém, pode falar o quiser, em qualquer momento sob pena de sofrer medidas coercitivas. Este é o caso dos internos do “ninho”.
O recente interno R. P. McMurphy (Nicholson) vem de uma prisão agrária onde realizava trabalhos forçados e também tinha os seus direitos a discursar castrados. Ele vê no sanatório uma possibilidade de ser solto de maneira mais rápida e sem ter que fazer muito esforço. Mas não é isto que constata com o passar do tempo e com o convívio com os outros internos. Todos os horários são controlados e sempre existem momentos para se falar exatamente sobre o que lhes é perguntado, discursos livres são sempre rejeitados. Uma das cenas que mais evidenciam esse tratamento foi à segunda reunião do grupo que é mostrada pelo diretor como uma disputa de poder. O que poderia ser apenas um simples pedido para ver um jogo de beisebol acaba se tornando um exemplo dessa disputa entre a enfermeira-chefe Ratched (Louise Fletcher) e o paciente McMurphy. Quem tiver a oportunidade de acompanhar o filme irá perceber que nesse momento já começa a existir uma mudança de comportamento dos internos, que, antes, aceitavam todas as sugestões da enfermeira sem questionar, mas agora acolhem a palavra de um "cara" que visivelmente tentava quebrar paradigmas e alcançar a liberdade. Mesmo que essa liberdade que ele tanto almeja nunca possa ser alcançada (ou pode?). O personagem de Nicholson se torna um líder para os internos – principalmente para Bily Bibbit (Brad Dourif), que o via como uma possibilidade de pai em oposição à imagem da mãe que castrava seus atos, palavras e sentimentos, e para o Chefe Bromden (Will Sampson), que o via como o exemplo de homem-livre, senhor de si e de suas ações. Essa liderança começa a ameaçar o poder da instituição personificada na imagem da enfermeira Ratched. Quando acontece isso, a maneira mais indicada pela instituição é punir com terapia de eletrochoque. Será que essa terapia servia para corrigir ou para punir?
R. P. McMurphy mostra ser um personagem carismático em meio a todo um ambiente rotineiro que ele mesmo tenta mudar. Seu carisma, mesmo que passageiro, poderá modificar aquele local e as pessoas que lá vivem e trabalham? Talvez, mas o filme também trás um ar de esperança quanto a possibilidade de mudanças.

sábado, 20 de setembro de 2008

coluna Música (por André Figueiredo)

Madonna é pioneira no estilo musical que faz, isso é um fato. O que é discutível, e muito, é se esse estilo leva em conta mais a música em si ou a propaganda que está por trás.
Porém, a “a rainha do pop” se mantêm exatamente na linha tênue entre os dois. Ela consegue ser genial nas duas proposições: Tanto na música, quanto na propaganda que a envolve.
O show de Madonna é algo que paralisa qualquer ser humano, seja ele um intelectual ou não. É um espetáculo do planeta Terra. A combinação dos movimentos entre cenas teatrais e a musica boa, transformam o espetáculo em algo fora desse universo.
Com toda essa genialidade, Madonna é daqueles ídolos inacessíveis; parecem que não existem; são deuses.
Entretanto, quando a gente retorna à realidade, nos deparamos com fatos totalmente diferentes, mas igualmente inacessíveis. O mundo real não é como o mundo de Madonna. Não é preciso citar as mazelas deste planeta para discernir os dois mundos. O indivíduo que vive realmente esse mundo cruel não tem a menor condição de pagar o ingresso do show da pioneira do pop e transportar-se para o mundo surreal de Madonna.
Enquanto isso, os dois mundos continuam separados e inacessíveis entre si.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Coluna:Economia(por Diogo Martins)

Na contramão do mundo

O Brasil é verdadeiramente um país singular. Enquanto a economia mundial ensaia uma desaceleração, a maior economia da América Latina segue super-aquecida. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no segundo trimestre de 2008, em comparação com o mesmo período do ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 6,1 %. No semestre, o crescimento foi de 6% - mesma variação dos últimos 12 meses.
Como explicar tais resultados? Bem, como o PIB é o conjunto da produção de bens e serviços, levam-se em consideração os números dos três maiores setores econômicos: agropecuária, indústria e serviços, cujos crescimentos foram de 7,1%, 5,7%, e 5,5%, respectivamente. Nesta conta, entra, ainda, a arrecadação do governo com impostos, que ficou na casa dos 8,5%.
O bom desempenho dos três setores foi puxado pelo aumento dos consumos das famílias e do governo. O primeiro registrou alta de 6,7%, enquanto que o segundo cresceu 5,3%. Outro fator preponderante para o bom momento da economia nacional foi a taxa de investimentos (do governo e de empresas), que neste ano alcançou a inédita marca (para nós, brasileiros) de 18,7% do PIB. Ajudaram os brasileiros os aumentos da renda e da oferta de emprego. Ao governo coube a benesse do aumento nos tributos, o que gerou maior arrecadação. Como é ano eleitoral, o Estado gasta mais com obras e contratação.
Até aqui, tudo bem. Talvez não. Notem que o crescimento da economia no Brasil não acompanha o consumo das famílias. Portanto, existe um desequilíbrio. Conseqüência: falta de produtos, volta da inflação. Isto pode acontecer a longo prazo, por isso, o governo tem aumentado os juros para conter a demanda, evitando a inflação. O que pode ajudar nesta guerra são as importações, que estão sendo aproveitadas pelos brasileiros, com o dólar baixo. O momento ajuda empresas nas compras de máquinas, que podem otimizar seus serviços.
Como o Banco Central (BC) adotou o aumento da taxa Selic como principal antídoto contra a inflação, daqui para a frente, o governo Lula e sua equipe econômica têm alguns importantes desafios: aumentar a taxa de investimentos, conter seus gastos e o consumo das famílias, garantir farta oferta de créditos para empresas, e controle da inflação. Tudo isto sem deixar a economia desacelerar. Fato que já começa a acontecer com outros emergentes, como a China.
Até a próxima!!!

domingo, 14 de setembro de 2008

Coluna: Literatura(por Tatiane Mendes)

“Úrsula não se alterou:
- Não iremos-disse. Ficaremos aqui porque aqui tivemos um filho.
-Ainda não temos um morto, disse Jose Arcádio. A gente não é de um lugar enquanto não tem um morto enterrado nele.
Úrsula replicou com uma suave firmeza:
- Se é preciso que eu morra para que vocês fiquem, eu morro.”

O dialogo acima é travado entre Úrsula e José Arcádio, personagens de Gabriel Garcia Márquez.Colombiano, nascido em 1927, iniciou sua produção literária com o livro “La Mojarasca”, em 1955, influenciado pelas histórias contadas pelo avô, Nicolas Márquez, veterano da Guerra dos Mil Dias e também pelos acontecimentos políticos que levaram a família a deixar a cidade natal de Aracataca, quando o escritor ainda contava oito anos, em meio à crise da industria bananeira, fato retratado em “Cem Anos de Solidão”, que lhe rendeu o prêmio nobel de literatura em 1982.Exerceu as funções de jornalista e editor, tendo sido também ativista político durante toda a vida.
A obra em questão é escrita no estilo literário do realismo fantástico, gênero criado pelo autor em conjunto com outros expoentes da literatura latinoamericana, influenciado pela obra “A metamorfose”, de Franz Kafka.Em dado momento , o personagem do livro transforma-se em um inseto,ao que o autor colombiano observa:”Então eu posso fazer isso? Criar situações impossíveis?
É neste viés que nasce a história da aldeia de Macondo,palco das vicissitudes de toda uma geração.
A obra relata a saga da família Buendía,tendo como patriarca Jose Arcádio e sua mulher,Úrsula. Ele, dono de uma personalidade em permanente estado de inquietação perante as descobertas científicas que chegavam através das trupes de ciganos que invadiam Macondo todos os anos,como mensageiros dos novos tempos.
A mulher por sua vez,carrega o fardo de manter a unidade familiar,seja nas atividades domésticas que acumula enquanto o marido mergulha em experimentos de alquimia,ou na tenacidade com que se mantém de pé ao longo do século em que a trama se desenrola. Seus filhos,Jose Arcádio,Aureliano e Amaranta, tem características que vão estar presentes em todos os descendentes. Além disso , serão batizados sucessivamente com os nomes de seus parentes,demonstrando o laço sanguíneo que envolve cada personagem e o amarra às essências de seus antepassados,levando-os a cometer os mesmo erros e vivenciar as mesmas dores, entrelaçando-se em histórias que correm simultâneas e que se misturam à própria evolução do povoado em que vivem.
Os filhos de Úrsula são as três substancias elementares da alquimia genealógica de Gabriel Garcia Márquez. O mais velho,Jose Arcádio,é o ímpeto de conhecer o novo, a coragem de romper com os laços familiares, na sua fuga com os ciganos ou no momento em que torna à cidade e arremata o coração de Rebeca, noiva do professor de música Pietro Crespi, objeto de disputa com Amaranta.
Essa última é o lado mais visceral e obscuro da família, guardando uma paixão tão desmedida dentro de si pelo italiano Pietro,que ainda assim não a impede de rejeitá-lo quando este a procura, abandonado por Rebeca. Seu amor é tão profundo que se basta sem que se concretize, então ela o repele branda mais inabalavelmente, não voltando atrás nem mesmo quando este se suicida. Então, num gesto impulsivo,descansa uma das mãos sobre as chamas do fogo até que a dor da queimadura diminua a tristeza pela morte do professor. Amaranta é o amor não correspondido,levado aos limites do seu universo interior e encarcerado pelas conveniências.
Aureliano por sua vez é o olhar contemplativo do homem em direção a si mesmo, eternamente mergulhado numa existência melancólica, o que não o impede de se tornar um coronel revolucionário, que não hesitou nem mesmo diante do pelotão de fuzilamento.
O ímpeto de Jose Arcádio, a paixão sufocada de Amaranta e a melancolia reflexiva de Aureliano são elementos que se fundem em cada um dos descendentes, como numa sucessão de experiências alquímicas de Melquíades, o cigano que profetiza o fim da linhagem dos Buendía, e que ao longo da história será o símbolo do desconhecido ,do místico, algo que exerce sobre cada um dos Buendía uma irresistível atração.
No desenrolar dos anos,fatos políticos são retratados , como o caso das compainhas bananeiras norte-americanas, que se instalaram nas republicas latino-americanas no início do século vinte e que permitiram a entrada maciça do governo dos EUA nestes países, atuando como governo auxiliar e ,em muitos casos,financiando regimes ditatoriais. A menor tentativa de revolta era duramente reprimida, como no episódio da estação de trem, retratado no livro, em que o exército promove um massacre entre os populares e ,com a exceção de um personagem,não há registro do fato,gerando uma verdadeira lacuna histórica na cidade.
O tempo corre e desencadeiam-se os dramas dos personagens, fundindo-se à história do lugar, como um longo novelo a desfiar um romance sem fim, até terminar com o último Buendía decifrando os pergaminhos ciganos e tomando consciência de seu destino implacável, não deixando rastro da família, como prediziam as profecias de Melquíades, pois, “as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oportunidade sobre a terra”.

sábado, 13 de setembro de 2008

Coluna: Cinema (por Alexandre Bizerril)

Por Volta da Meia-Noite

“O cinema é a vida sem as partes chatas, as horas de refeições e as de sono.”

Woody Allen

Ao som do jazz de Miles Davis tocando “Bye Bye Blackbird” , que era pura improvisação da banda, percebo o quanto a questão da autoria tem importância nas artes. Digo autoria no sentido de criação única, algo original, mas que não significa, obviamente, que veio do nada. Todos os autores têm obras nas quais se espelharam para fazer a sua própria arte, seja no campo da música ou do cinema, sobre uma das quais já irei escrever.
Assistir a um filme autoral é como escutar um belo improviso no jazz e temos belíssimas situações em que a música se mistura com o cinema formando seqüências de cenas magistrais. Espero que meu amigo, colega de faculdade e de blog, André, me permita citar um caso.
Um filme pouquíssimo conhecido, mas muito bem realizado, que se chama “Por volta da Meia-Noite” (“Round Midnight”, 1986, FRA), ao qual tive a oportunidade de assistir. Seu diretor, Bertrand Tavernier, carrega no aspecto boêmio - não só dos clubes de jazz, mas como na aura dos personagens e na configuração da história. Relato da vida de um saxofonista com tendência á autodestruição – interpretado surpreendentemente bem por Dexter Gordon, que é uma das lendas do jazz (que nunca foi ator e recebeu uma indicação para o Oscar de melhor ator por este filme) – sendo ajudado pelo único amigo em Paris. Este filme conta ainda com a participação no elenco de nomes de peso como Martin Scorsese, Lonette Mckee e Herbie Hancock - ganhador do Oscar pela supervisão musical. Entre as músicas tocadas nesse filme estão temas de Thelonius Monk, George e Ira Gershwin e do próprio Herbie Hancock, além da música que dá nome ao filme. A seqüência que mais chama atenção é justamente o momento em que Dexter Gordon toca “Round Midnight” e os freqüentadores do clube estáticos, observando a belíssima interpretação da banda.
Um filme como este permite entender a necessidade da música no cinema, imaginem aquela cena romântica sem uma trilha de fundo. Um bom exemplo seria “Casablanca” (1943, EUA) de Michael Curtis - quando Ilsa Lund (Ingrid Bergman) pede a Sam (Dooley Wilson), o pianista do bar Rick’s, para tocar a música tema do filme, “As times goes by”, exatamente quando Rick Blane (Humphrey Bogart) chega e reencontra Ilsa, que é uma antiga paixão. Sem essa música como pano de fundo, faltaria o elemento que indicasse o sentimento antigo entre as personagens.
Sem a trilha sonora o cinema talvez não tivesse o alcance e nem o impacto onírico que almeja.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Ainda sobre comunicação

Comunicação é contato,é encontro.Encontro consigo mesmo e com o outro.É criação de significados,através da observação do mundo.É expressão de sentidos pelos mais variados meios,corpo,voz,mente,toque......A percepção humana encontra os mais diversos formatos,na tentativa de expressar-se...A combinação de notas e melodia,na composição musical ,nada mais é do que a técnica associada ao sentimento,que busca nada mais do que dizer,por meio do som.E o que pensar do corpo,no estender dos músculos,no esforço do movimento,no ritmo da dança que é o lugar de sua palavra,onde ele se expressa e encontra resposta às suas inquietações?Dançar é antes de tudo produzir informação corporal,cadenciada pelo tempo da melodia,como palavras que se desenrolassem em estrofes de poemas,uma apos a outra .Assim também como as obras artísticas ,seja na profusão de cores das telas,nas linhas de uma escultura ou no tempo infinito da fotografia,diferentes arranjos compostos com a mesma necessidade de falar ,através de.
Toda forma de arte é uma expressão do ser e exterioriza sentimentos,assim como busca sua existência no diálogo entre o mundo exterior e o repertório individual de cada um,construindo um vocabulário pessoal de sentidos.
Comunicar é entender a forma particular de expressão de cada um,captar sua linguagem especifica e conseguir se fazer entender,entrar em contato.Comunicação não existe sem o "nós".

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Coluna de Esportes (excepcionalmente terça-feira)


Será o fim dos tempos de arte no futebol?


Há muito tempo já não percebo a expectativa grandiosa por um clássico em plena tarde de domingo. Foram-se os anos do amor incondicional à “camisa”, paixão inflamada nas arquibancadas e supremacia na disputa cordial pela “pelota” nos gramados.
Houve época em que se concebia um enorme prazer em ter a valiosa companhia de um radinho de pilha, colorindo nosso plano imaginário, antes mesmo dos eventos esportivos que tínhamos como espetáculo.
É preciso frisar que neste cenário os artistas principais, protagonistas da bola, pouco se deslocavam; não eram criados como simples atletas. Isto explicava a multiplicidade de lances plásticos, emblemáticos tanto pelo sucesso quanto pela proximidade do êxito.
O Brasil produziu gênios nesta senda. Didi, com sua “Folha Seca”, inspirou excepcionais sucessores. Garrincha, com suas pernas tortas, encantou multidões pela potencialidade do seu jogo com a boa e velha finta. Zico, o “Galinho”, levou o brilho aos olhos nipônicos, do outro lado do globo terrestre.
Sem contar os magos de 1970: Carlos Alberto, Nilton Santos, Gérson, Rivelino, Jairzinho, com uma contribuição primorosa para o histórico da comissão desportiva do país.
Outros tantos craques foram pinçados deste celeiro, que parece não ter fim: Barbosa, Manga, Adhemir da Guia, Sócrates, Falcão, Ademir Menezes, Mauro Galvão, Roberto Dinamite, Romário, Bebeto, Rivaldo, Ronaldo... Sim, daria uma coletânea!
Pelé, o “Eterno”, é o ícone de todas as gerações: o atleta completo em todos os fundamentos, cujas conquistas proporcionam ainda o respeito de quem adquiriu o reconhecimento pela desenvoltura e carisma indiscutíveis.
Faz-se necessário um questionamento acerca dos arredores sociais de todo este sentimento que, hoje, nos torna “rivais”. Vemos a juventude vivendo uma realidade inconseqüente, com rebeliões declaradas entre as “facções organizadas”, a que dão o nome de “torcida”. Ou seria distorcida? Promove-se o conflito em que os grupos ideologicamente manipulados “derramam” sangue em nome de um campeonato mercantil, onde os protagonistas são meros produtos, maquinário de produtividade, cujo rendimento se converte em moeda planejada para troca dos empresários deste meio que “entornou o caldo”, transbordando burocracia.

NOTA: Esta coluna veio à tona nesta terça-feira em virtude da proximidade das partidas das Eliminatórias para a Copa do Mundo 2010, com o foco voltado para a reabilitação da Seleção Brasileira. Atualizaremos nossa programação a partir da próxima semana. Desculpem o transtorno.

domingo, 7 de setembro de 2008

Coluna:Literatura(por Tatiane Mendes)

Literatura é a arte de organizar sentimentos em palavras, dispostos de acordo com nossa forma pessoal de ver o mundo. De todas as manifestações artísticas talvez escrever seja a mais penosa porque tem em seu produto o indefinível, o abstrato, descrito de modo absolutamente distinto do que se passou em nosso interior. Escrever é e sempre será um esboço do sentir, assim como as palavras jamais poderão denominar precisamente o universo que as cria.
Escrever é intangível , é tentar alcançar o inalcançável, é tocar o desconhecido dando-lhe roupagem remotamente familiar; é primordialmente transformação de idéias em palavras e palavras em histórias que irão alimentar o imaginário daquele que as ler, num processo de aprendizado de sentidos não palpáveis.
Para sentir é preciso entrar em contato, estando distraído de todo o resto, como crianças à hora de dormir, aguardando que a história contada ao pé da cama lhes forneça matéria de sonho com a qual construirão suas fantasias. E é nos contos de fadas que ela se encontra consigo mesma, revirando seus pequenos baús de idéias já conhecidas de mundo -aquilo que os adultos chamam de repertório- para criar universos fantásticos através daquilo que ouve.
Mais tarde, ao ser confrontada com as palavras, irá combiná-las com seus próprios pensamentos, arrumando-os então de forma mais elaborada, letrada.
Ao longo da vida, indivíduos que têm contato com livros conseguem perceber o mundo de forma melhor, pensar melhor, porque já possuem a capacidade de enxergar a realidade e interpretá-la com a ajuda de seu repertório de sensações e experiências. É esse o papel da literatura: Fornecer matéria imaginária para o contato com o interior de cada um, proporcionando o auto-conhecimento e a compreensão maior do mundo.
E nesse contexto o ato de escrever é apenas o primeiro passo no processo de percepção do texto, que é única e individual. Uma palavra pode ter inúmeras interpretações, conflitantes entre si mas cheias de significados para aquele que a ler.
O final desse processo só acontecerá após o contato desse aglomerado de frases disposto no texto de um livro com o repertório particular do leitor. Aventurar-se nessa viagem é decisão de cada um. O livro será apenas uma estrada, longa e tortuosa para uns, alegre e cheia de surpresas para outros. Seguir é uma escolha. Assim como virar as páginas de uma obra literária. Nunca se sabe o que se vai encontrar. O fato é que, se escolhermos conhecê-la, no final da história já teremos sido irremediavelmente tocados por ela e modificados em nossa essência.

sábado, 6 de setembro de 2008

Coluna: Cinema (por Alexandre Bizerril)

O FIM DOS CINEMAS DE RUA

“Bom dia, boa tarde e se vocês lerem esse texto somente à noite, uma boa noite”, mais ou menos dito em Show de Truman de Peter Weir. Eu não sabia como começar este texto e me lembrei que como manda a educação, nada melhor que começar uma relação com uma educada e amistosa saudação. E como lembrei de Jim Carey (o Jerry Lewis dos anos 90) dizendo esta frase de maneira cativante e trazendo o público para o seu lado, resolvi fazer o mesmo, já que é a primeira vez que escrevo para o blog. Afinal, sempre existe uma primeira vez.
Pensei em diversos filmes para comentar e confesso que fiquei na dúvida, pois se trata de uma paixão, a sétima arte, o cinema. Cinema, palavra reduzida de cinematógrafo, sob influencia do francês cinéma, que também é reduzido de cinematographe que significa: “estabelecimento ou sala de projeções cinematográficas”, segundo o dicionário de Silveira Bueno.
Os espaços cinematográficos, principalmente os cinemas de rua, que se multiplicaram pela cidade a partir dos anos 30, um bom exemplo são os cinemas da Cinelândia, começaram a ser fechados e transformados ou em lojas de conveniências ou em igrejas (nem preciso mencionar quais...). Infelizmente a “bola da vez” é o Estação Paissandu, antigo Stúdio Paissandu e antes, o clássico Cine Paissandu, inaugurado em 15 de dezembro de 1960 – com apenas 742 lugares, quatro salas muito maiores foram inauguradas no mesmo ano. Esse cinema foi palco de diversos filmes controversos, polêmicos, pura contracultura. Filmes como “Cinzas e Diamantes” (1958) de Andrzej Wajda, “Jules e Jim, uma mulher para dois” (1961) de François Truffaut, “Deus e o diabo na terra do sol” (1964) de Glauber Rocha e o grande mestre intelectual do início deste cinema Jean-Luc Godard com seus ótimos: “Acossado” (1960), “O demônio das onze horas” (1965), “A Chinesa” (1967) e “Weekend à francesa” (1967/68). Reparem que a maioria desses filmes datam depois do “Golpe de 64”, por isso ir ao cinema nesse período era considerado um ato político.
No último fim de semana o Estação Paissandu, que desde 1986 era administrado pelo grupo Estação Botafogo, exibiu filmes a R$ 1,00 em sessões de 10h as 22h. Será que essas foram as últimas sessões desse templo do cinema carioca?

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Coluna:Música(por André Figueiredo)

Caetano e o Paradoxo

João Gilberto gostava de tocar seu violão em lugares fechados, com paredes grossas , para que o contato com o exterior fosse o mais nulo possível. Dentro de um banheiro – seu lugar preferido- ele tentava a sonoridade mais pura , longe da sujeira da realidade.
Esses encontros íntimos com ele mesmo resultaram na famosa batida das cordas do seu violão, revolucionária, chamada bossa nova.Por esse contexto de criação , o pessoal da bossa nova foi nomeado de “purista”.
A partir daí, todos foram influenciados musicalmente, até hoje.Inclusive Caetano Veloso, que começou por causa de João Gilberto.
Porem, ninguém esperava tamanha genialidade de Caetano,que dez anos depois , foi o mentor do movimento tropicalista.Movimento com proposta totalmente diversa dos puristas.
O tropicalismo é totalmente aberto ao mundo externo, tanto que, as influências não são só nacionais, mas também de artistas estrangeiros como os Beatles em seu álbum revolucionário Sgt Peppers. Os Mutantes que o diga,usaram e abusaram de Beatles na época da tropicália.
Enfim, Caetano trouxe musicalidades do mundo todo , filtrou e adaptou ao Brasil.Atitude totalmente inversa da sua origem.Esse é o grande artista, o artista genial; o artista que consegue abrir sua mente para outras culturas, mesmo que a sua seja esquecida momentaneamente. Isso acabou influenciando todos os artistas a posteriori e fundou uma identidade na música brasileira, a MPB.

Nota:A coluna de Música será atualizada, a partir da próxima semana, às quintas-feiras.

Novos espaços

Inaugurando uma nova fase no blog,começamos com o projeto de fazer aquilo ao qual nos propusemos quando da escolha do curso de comunicação social, ou seja,comunicar ,entrar em contato, produzir informação ,ou apenas fazer uso deste espaço para expressar-se ,independente da forma.Por isso a proposta de criação de colunas, inicialmente divididas em cinema,política,esportes,cultura,economia,literatura e musica.Sugestoes sao bem vindas e tudo,incluindo o nome deste blog, pode ser alterado....Mudar de idéia é sempre válido...

abraços

"A mente que se abre a uma nova idéia, jamais voltará ao seu tamanho original" Albert Einstein