sexta-feira, 20 de março de 2009

A olhos vista

Uma obra de arte não se compreende em meros lances de sorte. A vida recria o milagre da existência na eventualidade sorrateira do destino. Quem espera nem sempre alcança, se no meio do caminho perde a razão em questionar um argumento corrompido.
O óbvio é a cautela na passagem do tempo pela presença da tal da paixão inesperada à beira da estrada. À margem de qualquer sombra de dúvidas. Distante do conhecimento, de causa, de verdade, de si mesmo. A lucidez brinca com as nossas sensações ao receber os estímulos de prazer na ousadia da controvérsia.
O contraponto é esperado na medida do exagero da anteposição dos contrastes, no desvio de atenção pelo sopro do vento ou, ainda, a sombra da chuva esquecida do silêncio maculado.
A felicidade é o estado de espírito, contencioso em sua alegria desesperada de tanto se guardar, para a pessoa e momento certos. O dia brilha em alto e bom som, na melodia daquela simples canção do outono passado. E o segredo nunca deve ser contado. De que vale a mais preciosa amizade se o detalhe se perde em meio ao absurdo da precisa escuridão?
Engana-se aquele que aguça em sua vivência a ininterrupta paz do coração... O sonho é a elevação da alma a uma espécie de estágio superior. O resultado é o produto das circunstâncias no cruzamento do amor com a vontade agraciada de saber, à altura da possibilidade de vitória e desenvolvimento da forma plena de manifestação do outro, espelho revolto da incólume delícia que se demonstra na evolução do espírito no alcance do interior, destituído de presunções, precauções, apenas a intensa face da serena amplitude do verbo poder.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Coluna:Cinema .por Alexandre Bizerril

Eu não sou pixote
“Bom dia, boa tarde e boa noite!” Hoje vou comentar sobre um filme que passou no domingo, dia 15/03/2009 – mais precisamente na TV Brasil. “QUEM MATOU PIXOTE?” de José Joffily (DOIS PERDIDOS NUMA NOITE SUJA) de 1996, com Cassiano Carneiro (Fernando Ramos da Silva / PIXOTE), Tuca Andrada, Joana Fomm, Roberto Bomtempo, Maria Luisa Mendonça, Luciana Rigueira, Paulo Betti, Antonio Abujamra.
O filme conta a história de Fernando Ramos da Silva, um rapaz que quando criança, foi descoberto na rua por uma produtora e interpreta o personagem titulo do filme “Pixote – A lei do mais fraco” de Hector Babenco e depois da fama meteórica como ator mirim, não consegue mais emprego. Para ele, a única saída é entrar no mundo do crime, ou seja, se tornar novamente o “Pixote”, apesar de relutar contra o estigma da personagem que nunca foi esquecida quando as pessoas o vêem.
A falta de emprego para os jovens que não possuem experiência é apenas um dos pontos a serem analisados no filme. Um momento bem interessante do filme é quando o Fernando é preso pela primeira vez e as pessoas e os jornais relembram a participação dele no filme e simplesmente o detetive o expõem as câmeras no pior momento dele, como se fosse um animal que foi capturado. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência, pois o filme é baseado em fatos reais. A visão nada romântica da vida de crimes, que apesar de ter dinheiro fácil o marginal paga um preço por isso e que na maioria das vezes não é tão barato – a liberdade ou a morte.
O filme tenta ser lúcido e trazer questionamentos para quem o assiste com um olhar um pouco mais critico em relação à sociedade. A idéia é provocar, e não trazer respostas fabricadas por uma industria do prazer onde é “lindo” ser bandido e falsificador, como no filme que foi passado pela TV Globo na terça-feira passada. Um filme que para se desculpar com quem o assistiu, diz ser “inspirado” em fatos reais. Ou seja, uma boa desculpa para não passar os piores momentos de um criminoso que não esteve “tão bem” o tempo todo, como é passado no filme inteiro.

ATIRE A PRIMEIRA PEDRA

Que atire a primeira pedra,quem pode,no alvorecer da pós modernidade,gabar-se de sua ética inabalável,ante os percalços da vida?Quem pode olhar para si e para os outros e ter a certeza de fazer exatamente o correto, o que de melhor poderia por aquele que esta ao seu lado?
Quem não treme de medo, ante a entrada do homem esfarrapado no coletivo, acompanhando seus passos com os olhos,aguardando o momento em que anunciará o assalto e que cala-se envergonhado quando este lhe pede um trocado,uma moeda para pagar o remédio ou o prato de comida?
Aquele que não duvida do menino no sinal , a efetuar malabarismos com seu corpo franzino,aguardando avidamente que se anuncie a aprovação ao espetáculo,traduzida em moedas de dez e de vinte, com a qual comprará seu café da manhã de ontem,mas será mesmo que esse dinheiro,que transborda e se perde nos nossos bolsos, vai virar lanche,ou virar cola,ou quem sabe pior,vai saber meu deus o que ele será capaz de aprontar?
Qual o cidadão respeitável,não acompanhou impaciente, o show dos malabares,ou o desfile dos cadeirantes, com um olho na janela e outro no sinal?
Voltamos nossos rostos para coisas mais apresentáveis,vitrines lotadas de produtos onde também nos exibiremos, catálogos coloridos onde persistem promoções até o infinito e que serão com certeza a garantia plena de nossa total satisfação até o próximo segundo?
Não pensamos no outro como a um igual porque somos únicos em nossos anseios e necessidades e não somos responsáveis pelos desmandos divinos.Divinos?
Somos nós que permitimos a cada ação,a cada escolha,que a segregação se perpetue,em nossa cela dourada,onde subsistimos em regime de fome,aguardando que a propaganda nos entretenha e traga a felicidade,em embalagens transparentes.
Somos nós que nos isentamos de culpa, a cada não que damos,quando nos esquecemos que também somos o outro,do outro lado do cano da arma ou da janela, na contramão do olhar que desviamos.Também dependemos da compaixão alheia.Em algum aspecto,somos todos indigentes, adoentados e perdidos, recolhendo os restos de nossas verdades,enquanto assistimos ao desfilar de nossos conceitos,destruídos ao chão ....Família,respeito,afeto,compaixão,são entidades tão esotéricas quanto distanciadas de nosso cotidiano,uma vez que estamos ocupados demais...
Que nos importa o flagelo alheio se nos abstraímos da nossa própria dor,pois não voltamos nosso olhar para o que de fato somos,humanos?Antes,buscamos perceber no reflexo turvo do espelho mais próximo, aquilo que acreditamos ser,deuses,incapazes de cometer alguma injustiça e passiveis de todas as bênçãos,por que somos incomparavelmente perfeitos,impassivelmente cegos e desmesuradamente surdos,tal e qual estátuas de bronze expostas na calcada,buscando a admiração alheia que nos eleve o brilho falso de nossas virtudes enquanto ao interior,uma massa compacta de gesso fragil,comprime-se com nossas subjetividades reprimidas tao fundo que nao mais as enxergamos,ate que esquecamos de quem somos.Mas quem somos?