segunda-feira, 27 de julho de 2009

"E agora, José?" (Carlos Drummond de Andrade)



O processo de formação da atividade jornalística se estabelece através da interação dialógica de partes provocantes, no que se relaciona à capacidade de questionamento acerca da realidade mundana, predispostas como sujeito e coisa na superfície de percepção do conhecimento.

A história do exercício profissional percebeu, ao longo de seu curso, inúmeras perspectivas e circunstâncias que mostram a complexidade de sua existência. Para ser atuante no segmento das ciências humanas, é importante ter um olhar crítico diante dos momentos engendrados pela evolução (involução) da sociedade, em tempos onde a modernidade observa a crise do lucro como fator predominante ao estado de alerta.

É importante ressaltar que a informação traduz, à luz da concepção humana, um leque de interpretações, no âmbito da lógica disponibilizada a partir do simbolismo e iconicidade convencionados à linguagem e aos hábitos, bem como às crenças repertorizadas no universo imaginário. O fluxo de notícias é fruto da avaliação significativa dos acontecimentos, fato que desobriga a necessidade das exigências acadêmicas, que se fundem no cumprimento dos requisitos legais instituídos legitimamente no campo social.

Vale frisar que em determinado período da caminhada política e da trajetória da imprensa, em plena ditadura, a voz da expressão e a liberdade de conscientização foram coibidas em aceno claro de repressão opinativa. Os militares se sobrepunham aos ideais estudantis, transformando o livre arbítrio em rédea curta.

Os veículos de Comunicação, por sua vez, sempre tiveram papel fundamental na questão dos interesses comerciais e financeiros, no que tange à persuasão político-ideológica, bem como ao culto em prol do entretenimento. A Indústria Cultural não carece de modelos “inalcançáveis” de produção intelectual, haja vista o estereótipo do sujeito pós-moderno se desvencilhar de toda e qualquer proposta nesse sentido. Em contrapartida, a transmissão de cidadania e de criticidade solicita aos mecanismos de ensino o grau mínimo de estrutura, em cujas raízes não encontra solução.

É válido acrescentar que, conforme rege a Constituição Federal de 1988, todo cidadão tem direito à liberdade de expressão e ao respeito de resposta, motivo que calca e enfatiza as atribuições de comunicador a qualquer habitante de nosso território capaz de negociar ideias. Afinal, será que a sociabilização depende, necessariamente, do vínculo educacional nos trâmites da frouxidão democrática do Brasil? Será que, para a execução do pensamento na coletividade, é preciso que paguemos pelo ensino em sua base ora deficiente?

O uso ideal do raciocínio na apropriação da voz da sociedade deve ser visto como premissa para a ação de um jornalista, independente das requisições antes previstas. A queda da lei de imprensa e a não-obrigatoriedade do diploma, decisões impostas pelo Supremo Tribunal Federal, passam longe de quebrar os paradigmas da profissão, pois a extenuante manipulação de fontes é o desafio indispensável ao cerne do Comunicador Social.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Caranguejos na lama praticam antropofagismo?

“A nossa independência ainda não foi proclamada”
Oswald de Andrade
Revista de Antropofagia, Ano 1, No. 1, maio de 1928


Em sete de julho de 2009, Michael Jackson ,astro do pop, será sepultado em rede mundial.Segundo nota no jornal Folha de São Paulo, portais eletrônicos especulam se o evento “derrubará” a internet, conforme ocorrido no dia da morte do cantor, quando o site de buscas Google registrara indisponibilidade no acesso a internautas. No mesmo dia, em matéria da própria Folha, a página do jornal Daily News atingia o número de 21,3 milhões de acessos, na cobertura dos desdobramentos desde o chamado para a emergência médica no Rancho Neverland,de propriedade do artista,até a divulgação precisa da hora de seu falecimento.
Aqui no Brasil a cobertura é extensa : jornais impressos, rádios, sites de noticias, canais de televisão e demais representantes da grande mídia divulgam notas sucessivamente, buscando cobrir o que parece ser o maior evento mundial do ano contrastando com a divulgação do resultado das eleições norte-americanas no fim do ano passado e firmando seus propósitos na busca desenfreada de mais informações pelo público.
Ao que se justifique informar a perda de um dos maiores símbolos da música intitulada “popular” mundial em seus quase cinqüenta anos de carreira e de contraditórias atitudes, sempre sob os holofotes da mídia, salta aos olhos o confronto entre os produtos da indústria de entretenimento avidamente absorvida em bits e pixels sites afora e o quase total desconhecimento do universo brasileiro frente ao que realmente suscitaria a alcunha de “pop”,feito pelo povo, no caso o nosso.
“Nunca fomos catequizados Fizemos foi carnaval”.
Oswald de Andrade


Já em 1928, o manifesto antropofágico de Oswald de Andrade, mesmo germinado nos mais privilegiados berços da elite paulistana, conclamava a produção de cultura de viés próprio,original, reconhecendo a influência direta das vertentes externas, mas conclamando a uma tomada de consciência sobre o processo de absorção de conhecimento.Para isso devorar, pregava, o que de bom lhe aprouvesse, regurgitando novas formas de expressão e percepção de si e da realidade. Hoje, afora as aulas de literatura e linguagem, antropófagos e seguidores dormitam perenes no esquecimento nacional.
“Eu organizo o movimento
Eu oriento o carnaval’.
Caetano Veloso,Tropicália.


Mais tarde, na década de 60, as águas da música popular desaguariam nos trópicos, sob o leme de Caetano Veloso, Gilberto Gil e os mutantes, resgatando em suas embarcações os canibais paulistas, trazendo as cores da experimentação estética e cultural.
Sem renegar a guitarra do rock, os tropicalistas propunham um tempero nacional: a miscigenação de regionalismos e elementos internos, como o forró e o folclore, “girando na roda-gigante” de ritmos nossos e compondo uma palheta de infinitas possibilidades.
Era a transformação do espectador em agente pelo reconhecimento da própria identidade brasileira, sincrética e plural, tecida nos fios da renda nordestina, com o tingimento de séculos de colonização européia e, por que não, indígena e africana.Como diria Caetano, ”não entendemos nada”.A vanguarda virou dialeto para pequenos grupos de discussões teóricas, rompendo com a base popular e generalista.Virou item de enciclopédia.
“E toda fauna flora grita de amor
Quem segura o porta-estandarte
Tem a arte, tem a arte”
Nação Zumbi-Maracatu atômico


Se de todo desprezados os manifestos e os projetos de construção de um discurso nacional, apoiado na produção cultural do Oiapoque ao Chuí, foi na lama,mais precisamente no Mangue,que os antropófagos retornaram à vida.Em 1994 era divulgado o manifesto “Caranguejos com cérebro”, precursor do manguebeat, ecossistema dos mais ricos do planeta e que gerou nomes como Chico Science e nação Zumbi.
Sob o estandarte da “parabólica na lama”, os mangues boys buscavam inundar as artérias de Pernambuco e do mundo com a expressão da mais pura música popular brasileira, em ritmos como o maracatu, o frevo e o carimbó, germinada sob as influências do contexto geral ,mas sim, com consciência e método, costurando em retalhos, culturas diferenciadas mas de igual e reconhecida importância :nós , os caranguejos tupiniquins e eles, resto do mundo.
Se portadores de uma mensagem de construção comum, os “manguetowns” não conseguiram acessar as grandes artérias da cultura nacional, destinada tão somente a absorver o fácil , rápido e breve. Permaneceram em guetos, como seus antecessores da tropicália, enquanto a metrópole se tornava a babel midiática em que todos se entendiam porque na verdade não havia nada a dizer.

Hoje, a cena cultural curva-se ante o cenário cibernético.Rompendo fronteiras,deitando por terra legislações de proteção ao conteúdo intelectual e firmando um novo pacto entre público e artista, a internet é o grande agente catalisador dos movimentos artísticos interativos, que o escritor Ferreira Gullar, autor do manifesto neoconcretista de 1959 e uma das influencias do tropicalismo, chamaria de “não objeto”, ou seja, a construção do sentido e da própria existência do objeto artístico ocorre no contato, no processo entre emissor e receptor, exigindo a ação deste ultimo, na produção de conteúdo relevante.
Mais do que espaço onde dizer,é preciso ter o que dizer, reconhecendo no fenômeno da globalização tão unicamente o propósito de estabelecer diálogos entre culturas e reafirmando o contexto da comunicação como o evento de construção de sentido entre partes que se posicionam como agentes. Mais do que um discurso amplamente divulgado,é necessário que se ergam inúmeras vozes e que sejam como tais reconhecidas:plurais, complementares, legítimas,brasileiras.
Resta aos herdeiros dos canibais tupiniquins escolherem se, na selva pixelizada dos dias atuais, se optará pela caminhada pelo espaço infinito de expressões humanas onde figure em igualdade de condições a nossa, ou se iremos em carreata, acompanhar o funeral em carruagem do cantor americano como zumbis pertencentes a túmulos da nossa própria consciência, na referência ao mais famoso videoclipe do artista, este sim, amplamente divulgado pelos meios de comunicação.Os caranguejos continuam a chafurdar na lama, ao sol do nordeste,esperando pelo dia em que, trazidos à tona, passem a existir para o público em geral.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Os tributos a Michael Jackson (In Memorian)

Em poucas horas, mais de um bilhão de pessoas assistirão à despedida do maior astro da música internacional de todos os tempos: Michael Jackson (MJ). Seu corpo será novamente produto para as capas de jornais conceituados e tablóides sensacionalistas. O Shopping Staples Center, em Los Angeles, onde o filho mais novo da família Jackson fazia os últimos ensaios para a turnê em Londres, se transformou em seu memorial.

Aos vinte e cinco dias de junho de 2009: na tarde desta quinta-feira, o coração do cantor se cala, após uma parada cardíaca. Segundo publicação do site oficial do jornal Los Angeles Times, o oficial Steve teria dito que, ao prestar socorro imediato, percebeu que ele não estava respirando. Ele chegou a ser socorrido em sua residência e fora levado às pressas, inutilmente, ao hospital UCLA Medical Center.

Os jornais do mundo inteiro destilam notícias ao (dis) sabor da “contemplação” do acontecimento que, ora tão particular, em se tratando de uma unanimidade de repercussão indiscutível, tanto pelo talento quanto pelos rumos patológicos, que a vida traçou em seu destino. De fato, era uma pessoa ambivalente. Afinal, o que a mídia deveria fazer? Ignorar?

Michael Jackson era um artista completo: intérprete, compositor, diretor de suas produções artísticas. E era, da mesma forma e com tanta intensidade, um ser humano polêmico. Seu sucesso veio à tona quando começou carreira solo, no final da década de 70, logo após seu desligamento do grupo regido pelo pai, Joseph Jackson, também empresário: Jackson Five.

Os veículos de comunicação de massa abusam de negociar discurso em nome da astronômica habilidade da estrela estadunidense em causar impacto com suas decisões públicas: fez de sua vida particular um parque temático de diversões, o conhecido rancho Neverland, em cujos limites ele impunha as rédeas controversas que não teve em sua infância. Além disso, recebeu, ao longo de sua trajetória, inúmeras acusações de abuso sexual a menores de idade, envolvendo a sua vida particular com seu patrimônio profissional. É mais um exemplo crasso da Indústria do Lucro.

A Indústria Cultural sempre fez do ídolo, à beira de sua imagem carismática e de seu desempenho esplendoroso, uma marca que reproduziria um estilo a ser seguido pelos jovens, tornando-se produto fonográfico de alta qualidade e reprodução midiática com a credibilidade do potencial artístico e comercial inconfundíveis.
A morte "precoce" do Michael já vinha anunciada desde a sua declaração de dependência a analgésicos. Ele pregava a sua mutilação por conta da neuropatia, refletida em sua própria análise do rosto diante do espelho, que o pai disseminou, a partir de suas perspectivas perfeccionistas e infundadas de cunho étnico.
Cumpre ressaltar que MJ sofria com as agruras do pai desde criança, uma vez que a disciplina chegava ao radicalismo, na aplicação de regras que, se não fossem cumpridas, seriam castigadas com surras declaradas pelo mesmo Joe.
Realmente, o significado da passagem de MJ traduz a afirmação de sua dor, explicada na trágica decadência de sua carreira, mediante os seus extensos conflitos psicológicos e a eterna cobrança que a imagem comercial lhe exigia, até porque já estava afastado dos palcos há certa feita, muito embora o legado sonoplástico represente uma obra-prima, cuja atualidade permanece intocável.
A doença psíquica do Michael e a sua excentricidade na condição de pessoa pública formavam a dicotomia que o transformariam num anti-herói dos tempos modernos, à margem da conseqüência de suas próprias magnitudes. Outra questão a ser abordada é sobre o compromisso ético da equipe médica que receitava os medicamentos à base de morfina, um deles de nome Demerol, cujo uso teria sido feito por Michael de forma indiscriminada.

Até que ponto chega a responsabilidade de um médico no pronto enfrentamento de seu exercício profissional com a premissa pela vida, tomando como ponto de partida um paciente que já teria declarado publicamente sua dependência de remédios? Onde entram as medidas legais na investigação da morte do artista?

A cerimônia familiar, conforme divulgara a cadeia televisiva CBS, acontecerá no cemitério Forest Lawn, nas colinas de Hollywood, em uma reunião íntima de amigos e familiares, por volta das 14 horas, no fuso-horário de Brasília. O memorial, provavelmente, não terá o corpo de MJ, mas levará consigo, em forma de tributo, o delírio de aproximadamente 17500 fãs, que acenaram à bagatela de até R$ 40 mil por um ingresso em nome da crença do último espetáculo do ícone que encantou multidões, é recorde de vendas de “Thriller” com 41 milhões de discos mundialmente reconhecidos: um popstar digno de grandes ocasiões.

Sem Temer o Futuro (STF) por Diogo Martins

Mais uma vez, a mídia brasileira criou um rebuliço na sociedade, dando maior gravidade a um assunto que não deveria ter tanta importância nem espaço nos veículos de comunicação. A bola da vez foi a queda na obrigatoriedade do diploma de jornalismo para exercer a profissão, expedida pelo Superior Tribunal Federal (STF).

Agora, a pergunta que muitos fazem: o que muda daqui pra frente? Bem, nada. Na verdade, por mais importante que seja o STF, essa decisão é irrelevante. Isto porque o que valerá em diante é a postura dos veículos de comunicação. Suas políticas de contratação e trabalho.

Assim como no Brasil, nos Estados Unidos, não é obrigatório possuir graduação para exercer a prática jornalística. No entanto, o The New York Times contrata apenas os que possuem o diploma.

Mas o que de fato deve ser analisado é a migração de profissionais de diferentes áreas de estudo para o jornalismo. Para o jornalista e escritor Nilson Lage, como publicou no livro “Reportagem: a teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística”, a mudança acarreta numa perda social. Na publicação, Lage cita como exemplo um físico quântico. Dada a significância à profissão, se o físico desiste de fazer novas descobertas, de aprofundar-se em sua matéria, para produzir textos jornalísticos, a física perderia e a sociedade também.

Os argumentos de Lage podem ser verdadeiros e pertinentes. Mas deve-se dar tempo ao tempo para que questões como essas sejam mais bem analisadas. Afinal, o que não faltam são exemplos de profissionais que desistiram de carreiras para seguirem no jornalismo, desempenhando a função de maneira exemplar. E, ao final de tudo, o mercado não acolherá profissionais desqualificados.

sábado, 4 de julho de 2009

Azeite e Orégano

Aglutina, acompanha, aproveita, acredita!

Barbariza, brinca, beija.

Cuida, cresça, conforta.

Desperta, destoa, divirta.

Encanta, escolha, expira, et coetera.

Fala, frisa, faça.

Garanta, gradua.

Harmoniza, habita; haja motivos!

Insista, incondiciona, inflama.

Justaponha, joga limpo.

Luta, liga, livra.

Mova, mistura.

Nomeia, namora, ‘novembra-se’.

Ousa, ouça.

Persista, proteja, projeta.

Qualifica, queira.

Ressalta, revira e ratifica.

Seduza, simula, salva.

Trata, tenta (até conseguir!), termina.

Una.

Vá, volta, viva...

Xi!

Zuna, zoa, zomba dos problemas, que a vida é curta demais.